quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Gestantes expostas à poluição atmosférica podem gerar filhos abaixo do peso


Faixa de poluição sobre a cidade de São Paulo
Faixa de poluição sobre a cidade de São Paulo (Folhapress)
 Filhos de gestantes expostas à poluição atmosférica podem nascer com baixo peso. Além disso, já na idade adulta, eles correm maior risco de desenvolver pressão alta. Esses são os primeiros resultados de uma pesquisa que vem sendo realizada há um ano na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), com previsão para ser concluída em 2013. Os dados  foram revelados ao site de VEJA durante o encontro anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) 2011, no Rio de Janeiro. O estudo está sendo conduzido por meio de uma cooperação entre os médicos Paulo Saldiva e Joel Heimann, ambos da FMUSP.
Heimann participou da reunião anual da FeSBE para falar sobre o excesso ou restrição do sal na dieta de ratas gestantes. Contudo, o médico revelou que seu trabalho mais recente, realizado em cooperação com Saldiva e ainda não publicado, analisa os efeitos da poluição de uma cidade como São Paulo em ratas gestantes e em sua prole. 
Ar nocivo - Os médicos separaram dois grupos de ratas: um que foi exposto à poluição antes da gestação, para verificar se a exposição modificaria alguma função do animal no período; e outro que foi exposto durante a gestação. "O primeiro grupo recebeu uma dose (de poluentes) equivalente à recebida por um ser humano, respirando o ar de São Paulo, por um ou dois dias", explica Heimann. O segundo recebeu a mesma dose durante as três semanas de gestação.
Os pesquisadores já obtiveram alguns resultados definitivos. O primeiro é que os filhotes das ratas que foram expostas à poluição durante a gestação nasceram abaixo do peso considerado saudável. Além disso, os médicos perceberam que, ao chegar à fase adulta, os ratinhos tinham pressão alta.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o nível máximo permitido de poluição atmosférica no ar é de 15 microgramas de partículas por metro cúbico de ar. Em São Paulo, as medidas na região da FMUSP, no bairro Cerqueira César, há muito tempo não ficam abaixo de 70 microgramas, de acordo com Heimann. "Em alguns dias ela chega a 200", afirma o médico.
Experimento - A análise foi possível porque o professor Saldiva, do Departamento de Patologia da FMUSP, possui um equipamento que concentra as partículas da poluição do ar paulistano. Dentro da máquina, os ratinhos são colocados em duas câmaras, uma com ar limpo e outra com ar poluído. "Os ratos são expostos em um período entre uma e duas horas", disse Heimann. Num ser humano, isso equivale a uma exposição aos poluentes de São Paulo num período entre 24 horas e 48 horas.O médico explica que o maior agente poluidor é o automóvel. "Durante os fins de semana, quando a quantidade de veículos diminui, o nível de poluentes cai muito". De acordo com o pesquisador, as partículas tóxicas podem ficar retidas nas vias aéreas e até chegar à corrente sanguínea.
A poluição já foi estudada associada a outras condições da saúde, mas raramente à gestação. "Por exemplo, existe a associação de morte cardiovascular em dias que a poluição está maior", afirma Heimann. O estudos sobre os efeitos da poluição em gestantes, contudo, ainda é muito incipiente, de acordo com o cientista da FMUSP.
Próxima fase - A parte ainda não conclusiva do trabalho vai analisar por que a poluição causa pressão alta na fase adulta dos filhotes, o baixo peso ao nascimento e os efeitos da poluição no corpo das gestantes. Resultados iniciais apontam para inflamação na placenta e em outras partes do organismo da rata gestante. Contudo, Heimann é cauteloso ao comparar os resultados com humanos. "Não podemos fazer uma associação direta, mas sabemos que o modelo da gestação das ratas possui muitas semelhanças com a do organismo humano", afirma.

A relação entre a condição da gestante e os efeitos na vida futura da prole foi entendido pela primeira vez pelo epidemiologista inglês David Barker, em 1997. O cientista criou a hipótese do fenótipo econômico, em que mães que têm a alimentação insuficiente durante a gestação têm filhos com porte e peso reduzido. Essa condição, diz a teoria, seria necessária para adaptar a cria às condições de escassez do ambiente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário